Eu tinha apenas cinco anos quando folheava as revistas de vestidos de noiva das minhas irmãs, naquela época a ideia sobre o “Amor” e “casamento” era só mesmo o que via nas revistas “vestido branco com muito brilho e um noivo lindo e final feliz” como nos contos de fadas, nas inúmeras histórias que minhas irmãs liam para mim como,”cinderela”, “branca de neve”, “bela adormecida” enfim, sempre um príncipe salvando a princesinha indefesa e eu achava mesmo que um dia o meu príncipe chegaria e me daria um final feliz! E que aquilo, somente aquilo era Amor.. Sem dor, sem sofrimento..
Foi ainda muito cedo quando comecei a questionar a ideia sobre o amor, eu tinha em torno de oito e nove anos quando, ele(meu pai) chegava quase todas as noites bêbado em casa e descontava toda sua ira na minha amada mãe.. não era capaz de compreender tudo aquilo, eu só tinha medo e sentia muita dor, me sentia incapaz, queria poder fazer algo.. desejava tanto que ele descontasse toda aquela ira em mim! E por que o amor tinha se transformado em algo tão horrorozo? Por que causava tanta dor? O Amor não era perfeito como nos contos de fada? Como alguém seria capaz de machucar alguém que ama?
Lembro de algumas noites em que, abria a porta do meu quarto e me arrastava até o quarto da mamãe e de soslaio pela brecha da porta eu vericava se o monstro estava por lá e quando não estava eu subia na cama em silêncio para não acordá-la, deitava ao seu lado, pensava que se ele chegasse e me visse ali, não tentaria nada.. essa era a única forma de protegê-la, no começo até deu certo mas, depois eu me tornei invisível.
Eu ainda me lembro de cada uma destas noites, é como um filme que passa em minha memória.. bom, as revistas? é eu rasguei todas elas, sentia raiva.. como se a vida tivesse mentido para mim, não podia ser pior mas, sim foi bem pior do que eu esperava.. um dos meus grandes amores se foi, a vida era mesmo imprevisível e não era nada parecido como nos contos de fadas, eu tinha dez anos quando ela se foi.. não, não foi minha mãe, era minha irmã que estava partindo.. e é difícil falar sobre isso porque, essa foi um das perdas mais dolorosas de toda a minha vida! Ela era incrível, tenho em minha memória o seu sorriso de orelha a orelha, linda em cada detalhe, alegre, divertida.. engraçada, Deus.. como eu a amava e ainda a amo.
Enfim, eu cresci.. e essas cenas continuaram acontecendo com frequeência, acho que desejei tanto tomar as dores da minha mãe, que a vida me escutou e pronto! Era eu que apanhava.. por defendê-la. Fora de casa a minha vida acontecia, conhecendo e desconhecendo pessoas e dos amores que eu vivi.. todos me jogaram do mais alto penhasco, cada queda uma ferida, uma dor, um trauma, uma perda.. mas, sabe eu aprendi muito sobre o amor e ainda sou uma mera aprendiz e de uma coisa eu sei.. o amor é muito maior do que pensamos.. que imaginamos que seja !
O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. (1 Coríntios 13:4-7)
Você já deve ter visto, assim como eu vi inúmeras postagens sobre essa passagem biblíca mas, só quem vive realmente sabe o signifado real disso, ” Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” gosto de frisar esta parte porque é sobre isso.. suportar tudo e permanecer, ainda crer, continuar acreditando que ele é capaz de transformar, de unir.. eu não estou defendendo o “meu pai” pois uma das maiores certezas que eu tenho nesta vida é que o AMOR não é violento, “não maltrata” e hoje eu sei que aquilo estava bem longe de ser “Amor”.
O meu príncipe? é bom, ele nunca veio rs.. e de fato ele não existe, porque ninguém é perfeito como nos contos de fadas, na vida real é você mesmo que se salva, “você é o amor que tanto espera”, e está ai uma das maiores descobertas sobre o “Amor”, talvez você seja o amor que tanto procura e tenta dar aos outros. Eu tive inúmeros motivos para desacreditar mas, o “Amor” sempre me acompanhou por toda a vida, foi naquelas noites turbulentas que eu vi o amor gritando alto, lutando incansavelmente contra o ódio, a maldade.. era o Amor da mamãe pela suas filhas, ela nunca deixou de lutar e hoje eu bem sei que foi por amor!
Quando perdi minha irmã, achei que seria o fim mas, outra vez o Amor se fez presente e nos uniu ainda mais e lá estava ele.. me acompanhando, eu pude vê-lo em em diversos momentos da vida.. e me pergunto o que seria de mim sem ele? Nós somos companheiros de vida, parceiros, eu não existo sem ele e ele não existe sem mim.. porque nós nascemos juntos , de alguma forma eu sou fruto de um amor que um dia existiu entre meus pais!
Por anos da minha vida eu busquei em outras pessoas o que sempre esteve presente comigo e eu só pude encontrá-lo quando estive sozinha, foi na solidão da vida que eu descobri o meu amor.. quando eu tratei das minhas próprias feridas, quando eu cuidei de mim mesma e me AMEI e ganhei a PAZ que eu tanto buscava.. e viver em paz é tudo que a gente quer. E ter paz também não se resume em ter alguém, a paz que a gente busca é interna.. está dentro de nós esperando até ser encontrada, eu sei o quanto é difícil encontrá-la quando existe um turbilhão de coisas acontecendo ao nosso redor e dentro de nós, por vezes eu me desencontro e me perco mas, eu sei que quando isso acontece é necessário recuar por um momento, me afastar.. e refletir, voltar para o momento onde comecei a me perder e então me encontrar outra vez! Me reconectar.. o amor que regamos por nós mesmo é uma fonte para uma cura interna!
O relaciomento com as outras pessoas só dará certo quando, você souber se relacionar consigo mesmo, regar este amor.. você precisa se compreender, ouvir a si mesmo, entender os seus traumas, suas dores, seus questionamentos, entender o seu próprio caos e quando você parar para se escutar.. você vai buscar as soluções e talvez seja mais simples do que pensa.
Eu tenho certeza que já ouviu esta frase “As pessoas mais sozinhas são as mais bem acompanhadas” simm.. eu demorei para entender isto até viver isso.. rs, eu fui minha melhor amiga, eu tive que escutar o que meu coração queria dizer e não ele não queria ser resgatado por um príncipe.. ele só queria “PAZ”, e essa paz eu encontrei nas coisas mais belas e simples da vida.. tomando um café e saboreando meus “croissants”, conhecendo lugares, observando as paisagens, as pessoas, rindo sozinha, caminhando e escutando minhas músicas favoritas, escrevendo, lendo, tomando aquele bom vinho e fazendo uma janta gostosa para mim mesma, me divertindo mesmo sozinha e cuidando não só do meu exterior mas, do meu interior.. enfim, infinitas descobertas que fiz sobre mim mesma ! EU ME OUVI!!!
E finalmente descobri que nãooo.. eu não preciso do AMOOOR! de alguém para viver em paz e ser feliz! O amor não é uma busca mas, se nesta incrível jornada surgir alguém que queira compartilhar o seu amor, eu estarei pronta pra compartilhar o meu também mas, com orgulho vou poder dizer que não dependo emocionalmente de ninguém!
Hoje compreendo o motivo das minhas desilusões amororas, dos amores fracassados.. eu passei anos da minha vida depositando todo amor que eu tinha, nas pessoas e fui me deixando para trás, a dependência emocional nos destrói lentamente e também é um caminho para uma depressão, ansiedade enfim.. talvez outra hora eu fale um pouco mais sobre isso, hoje eu só quero compartilhar esse AMOR com vocês e dizer que apesar das duras quedas e fases da minha vida O AMOR venceu! e vamos vencendo a cada dia, nós gritamos juntos quando as coisas ficam difíceis, lutamos juntos e no fim eu sempre descubro algo novo, no fim eu sempre o encontro em um lugar novo, diferente e desconhecido.. enfim
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Diário de Gabi 